Nezildo Vale

quarta-feira, 27 de outubro de 2010

Historia de Vitória do Mearim


Vitória do Mearim é o município mais antigo de toda a região banhada pelo Rio Mearim e sua sede, pela altitude privilegiada, foi o local onde o colonizador português venceu-lhe as águas revoltas do baixo curso, fato que, provavelmente, deu origem ao topônimo.

As primeiras incursões pelo rio Mearim foram contemporâneas da própria colonização do Maranhão, nos séculos XVI e XVII. Daquela época, avulta, hoje, a epopeia de Manoel Beckman (final dos anos 1600), dono do Engenho Vera Cruz, vastíssima propriedade que abrangia grande parte do que depois seria o Município de Vitória do Mearim. A sede da propriedade ficava, ao que tudo indica, no lugar Santa Cruz, hoje pertencente ao Município de Conceição do Lago Açu, instalado em 1997, após desmembrar-se do de Vitória. Bequimão, como era conhecido, liderou uma revolta contra a espoliação a que o Estado fora submetido, em detrimento dos interesses dos colonos, e, por isso, foi condenado à morte na forca.

Em 1723, foi criada, por uma resolução régia de 18 de março, a Freguesia de Nossa Senhora de Nazaré do Mearim, sediada no povoado Ribeira do Mearim, tendo como primeiro vigário o padre e fidalgo da Casa Real Portuguesa José da Cunha d’Eça, mentor da referida paróquia e instituidor de seu primeiro patrimônio. Existiam na região, também conhecida, na época, como Ribeira do Mearim ou simplesmente Mearim, alguns engenhos, com poucas dezenas de pessoas, cada um, além de uma provável residência de religiosos mercedários e outros moradores dispersos. Eram “quinhentas almas privadas de sacramentos” a justificar a criação da freguesia. Essa iniciativa foi o verdadeiro marco inicial da história de Vitória do Mearim.

Proclamada a República, a antiga Vila do Mearim era já conhecida como Vila do Baixo Mearim e Victória do Baixo Mearim. No novo regime, o primeiro chefe da comuna (presidente do Conselho de Intendência) foi Francisco Manoel Gomes (1890). Realizadas as primeiras eleições (1892), saíram eleitos, para intendente municipal, Lupércio Antonio Bogea Sobrinho e, para subintendente, João Ignácio Fernandes, figurando Francisco Manoel Gomes como o vereador mais votado.
Com a mudança da denominação do cargo de chefe da municipalidade, em 1919, o intendente Raymundo Francisco Gomes passou à condição de prefeito municipal, mas o primeiro eleito para exercer tal cargo foi Ângelo Custódio de Mattos, em 1922.
Naquele ano, chegou à Vila, assumindo a Paróquia de Nossa Senhora de Nazaré, o jovem Pe. Eliud Nunes Arouche, que dedicou toda a sua vida ao povo vitoriense, servindo-o como pastor, educador e chefe político. Ao morrer, em 1969, legou à comunidade que adotara o mais importante educandário do lugar, o Instituto Nossa Senhora de Nazaré, fundado em 1923, e a aurora de uma nova era político-administrativa, já livre o Município do ranço obscurantista que o manteve preso a práticas obsoletas até o início dos anos 1960, com raríssimas exceções, como a administração de Lourenço Pereira Pinto (1951-1953), em que, além de outras iniciativas importantes, a cidade conheceu iluminação pública a energia elétrica.
O trabalho do Cônego Eliud foi continuado por seu sucessor, Pe. Sergio Ielmetti, que celebrou, em 2004, 50 anos de sacerdócio e 35 de paroquiato em Vitória do Mearim, onde suas obras, no campo religioso e social, são reconhecidas por todos.
Ao longo de sua história, o povo vitoriense foi marcado pela atuação dos sacerdotes da Igreja Católica, sob a égide da qual nasceu e vigorou. Deixaram sua marca na cidade, além dos já citados, os padres José Lourenço Bogea (vigário de 1835 a 1869), João Emiliano do Lago (de 1870 a 1885) e Arthur Macário Lopes Gonçalves (homônimo de um irmão de seu pai, citado adiante), este um filho da terra que, embora não sendo pároco, muito contribuiu para o desenvolvimento local, pois foi um benfeitor nas áreas de educação, saúde, sindicalismo e assistência social. São sacerdotes filhos da terra, entre outros, mais recentes, os padres Flávio de Sousa Barros, pároco de Araioses-MA há mais de quarenta anos, e Osvaldo Marinho Fernandes, de Santa Rita-MA, onde exerceu o cargo de prefeito municipal por dois mandatos, de 1997 a 2004.
Em 1923, a sede do Município fora elevada à condição de cidade, por lei estadual, que oficializou o nome de Vitória do Baixo Mearim. Quinze anos depois, por determinação do interventor Paulo Ramos, receberia a denominação simplória de Baixo Mearim, que muito desagradou aos seus filhos. Finalmente, em 1948, adveio o topônimo definitivo: Vitória do Mearim.
As perdas territoriais tornaram-se uma constante na história vitoriense. As primeiras aconteceram em 1854, com a cessão da maior parte do território que formou o município da Vila de Santa Maria de Anajatuba e de parte das terras que formaram os municípios da Vila de Santa Cruz da Barra do Corda e da Vila de São Luiz Gonzaga do Alto Mearim. As últimas ocorreram em 1997, quando foram instalados os municípios de Igarapé do Meio, Bela Vista do Maranhão e Conceição do Lago Açu, constituídos integralmente com áreas que pertenciam a Vitória do Mearim.
Hoje, a velha cidade ribeirinha é um entroncamento rodoferroviário, o que, concomitantemente com determinados benefícios do progresso, lhe trouxe a formação de bairros periféricos, habitados por pessoas de acentuada pobreza e com escandalosa carência de serviços públicos, já deficientes mesmo para a população mais abastada. Como resultado desse inchaço da cidade, veio a escalada da violência, que a todos tomou de surpresa, embora fenômeno comum nos centros urbanos mais adiantados, roubando a tranqüilidade de outrora. Some-se a isso o clima hostil sob o qual vive grande parte dos habitantes da zona rural, lavradores desprovidos do usufruto de serviços públicos os mais elementares e humilhados pela ganância de latifundiários, nem sempre legítimos detentores da propriedade que reclamam como sua, e tem-se pintado o quadro de graves problemas sociais que afligem a população de Vitória do Mearim. São problemas que exigem solução sem demora, a desafiar a sensibilidade, a vontade política e a competência dos gestores públicos do Século XXI.
No que tange à história local, infelizmente, muito do que se difundiu nas últimas décadas está eivado de erros e omissões. Fatos, datas, relações de causa e efeito, circunstâncias e até nomes próprios são erradamente mencionados em determinadas publicações, como a Enciclopédia dos Municípios Brasileiros (IBGE, 1959).
Pesquisa criteriosa vem sendo empreendida, entretanto, na tentativa de restaurar a verdade histórica, recuando aos primórdios da colonização do Rio Mearim e adentrando a história plurissecular do povo que às suas margens floresceu, onde o pranto indígena gamela e o suor negro, sob a sinistra canção do chicote branco, irrigaram o solo propício para a agricultura, que, até hoje, constitui sua atividade econômica preponderante.
Verdadeiro portal da Baixada Maranhense, onde se destacam os campos naturais inundáveis, banhado por dois grandes rios, por isso que com terras férteis e água em abundância o ano inteiro, e muito próximo dos terminais portuários da Ilha de São Luís, com os quais se comunica por vias rodoviária (BR-222 e BR-135) e ferroviária (estrada Serra de Carajás—Ponta da Madeira), o Município é vocacionado (mas ainda não foi descoberto) para sediar empreendimentos industriais, o agronegócio e o ecoturismo, sem esquecer a possibilidade de ações públicas para fomento do turismo histórico-cultural, haja vista a riqueza de suas tradições.

fonte: Internet


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